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domingo, 4 de julho de 2010

Homeopatia: Um Saber na contramão da Ciência


DIÁRIO DE BORDO: Este artigo foi publicado na Revista Racine n° 82 www.racine.com.br, onde parte do texto estava resumido na revista Racine publicada em Outubro de 2004 e parte na mesma revista na forma eletrônica. Dedico este trabalho ao meu colega e amigo farmacêutico Dr. Vagner Miguel que muito me ajudou na divulgação de meus textos.


Cenário

A homeopatia é praticada no Brasil há um século e meio. Atualmente já faz parte dos planos de saúde e do serviço público. A procura por uma medicina preventiva, no Brasil, é cada vez maior e a homeopatia aqui cresce a passos largos, pois além de curativa, é essencialmente preventiva, tratando-se de uma terapia eficaz, barata e sem efeitos colaterais.

De acordo com a Associação Médica Homeopática Brasileira atualmente nove milhões de pessoas utilizam a homeopatia no Brasil. A homeopatia é uma especialidade médica reconhecida desde 1980, pelo Conselho Federal de Medicina (Resolução CFM 1000/80) e de Farmácia, desde 1992 (Resolução CFF 232/92, atualizada pela Resolução 335/98). Instituições Homeopáticas brasileiras afirmam que já são mil farmácias no país, 2.000 farmacêuticos (em um total de 86.000 farmacêuticos) e cerca de 15.000 médicos que praticam Homeopatia (em um total de 383.000 médicos), entre estes se conta um grande número de pediatras. Os números são cinco vezes maiores que 15 anos atrás. Como aproximar a abordagem homeopática ao conhecimento médico contemporâneo? O conhecimento médico atual é o resultado de estudos cumulativos de diversas áreas, segue a metodologia científica, portanto é analítico e fragmentário. A sabedoria homeopática, por sua vez, é detentora de uma visão global do funcionamento orgânico, portanto integralista. A melhor maneira de aproximação entre as duas correntes de pensamento é visualizar o conhecimento cientifico atual sob a ótica homeopática. Aquilo que parece independente na visão fragmentária do médico ortodoxo apresenta relação a uma grande quantidade de outros transtornos concomitantes verificados num único paciente na visão integralista do médico homeopata. Através dessas combinações podem se verificar mecanismos causais e interpretações de processos patológicos antes não percebidos numa abordagem clínica não homeopática e muitas destas visualizações trazem benefícios para o diagnóstico e para a conduta médica.



O que é Homeopatia?

É um sistema terapêutico que visa o tratamento de pessoas e animais através de medicamentos que estimulam seus sistemas defensivos e imunológicos a fim de que o próprio organismo inicie o processo de cura (através da força vital). Está baseado em princípios naturais concebidos desde remotas eras (Hipócrates, quatro AC), porém só desenvolvido e sistematizado por Cristiano Frederico Samuel Hahnemann (1755 a 1843), médico de Meissem, quando publica em seu ORGANON os princípios básicos de sua doutrina a que denominou HOMEOPATIA, palavra formada das raízes gregas homoios (semelhante) e pathos (doença ou sofrimento), querendo para isso designar uma terapêutica baseada no adágio hipocrático - SIMILIA SIMILIBUS CURENTUR - representando aí uma metodologia que combina a experimentação de uma substância capaz de provocar no homem sadio, porém suscetível, um conjunto de alterações que permite relacionar por similaridade este estado de enfermidade artificial a um estado de enfermidade natural desenvolvido pelo homem adoecido. Hahnemann dedica à sua obra quarenta e três anos de estudos e experimentações que sumariamente pode-se resumir nas seguintes afirmações:

- Toda a ação terapêutica evolui segundo certas leis naturais de cura.

- Fora dessas leis não existe recuperação da saúde.

- Não existe doença como entidade, o que existe são indivíduos doentes.

- Todo estado patológico é caracterizado por uma força dinâmica peculiar, e, conseqüentemente, para se obter o efeito terapêutico, o medicamento deve ser dinamizado (técnica desenvolvida por ele próprio consistindo em diluições seriadas seguidas de agitação ritmada ou trituração).

- Cada indivíduo doente necessita de um único remédio particular (a que denominou SIMILIMUM). Se este medicamento não é encontrado, o melhor que pode acontecer á apenas o alívio temporário (através do SIMILAR), neste caso não se pode curar.



Princípios Fundamentais

Hahnemann classificou os métodos terapêuticos de sua época em Alopatia, Enantiopatia e Homeopatia. A diferenciação baseava-se na ação do medicamento no homem sadio onde, dentro das possibilidades, a substância produziria manifestações farmacodinâmicas diferentes da sintomatologia encontrada no homem doente (Alopatia), contrárias ou antagônicas àquelas observadas no doente (Enantiopatia) ou semelhante (Homeopatia), conforme a terapia empregada obedecendo a certos princípios e leis naturais. Atualmente o vocábulo ALOPATIA é utilizado de modo indevido no sentido de generalizar os procedimentos terapêuticos medicamentosos não homeopáticos, pois a medicina ortodoxa contemporânea não apresenta nenhuma preocupação doutrinária ou científico-filosófica, consistindo suas terapias num acúmulo de hipóteses físico-químicas tendo como base de sustentação as comprovações laboratoriais sem nenhum vínculo a um sistema baseado em leis e princípios verificados por experimentação. A ENANTIOPATIA (termo em desuso atualmente) constitui na terapêutica paliativa onde a necessidade de um medicamento para cada sintoma levou à prática da polifarmácia. A doutrina de Hahnemann fundamenta-se em quatro princípios:



O primeiro princípio é o da utilização do medicamento cujo princípio ativo provoca sintomas similares ao da enfermidade natural que se queira curar. Hahnemann ao traduzir a MATÉRIA MÉDICA de Willian Cullen verificou que este autor atribuía às propriedades amargas da China officinalis a responsabilidade pelo aparecimento, no estômago, de outra substância contrária à febre provocando a cura desta. Inconformado com essa interpretação, Hahnemann experimenta em si mesmo a droga vegetal e comprova que esta produzia um estado semelhante à febre e concluiu que era precisamente pela propriedade de assemelhar-se à enfermidade que esta droga era capaz de curar.



O segundo princípio originou-se no tratamento que Hahnemann aplicou em crianças com escarlatina utilizando doses mínimas de ópio e belladona. Hahnemann partiu para a redução das doses aplicando diluições em água e álcool etílico numa escala centesimal progressiva seguida de agitação a fim de evitar o agravamento inicial dos sintomas que a enfermidade apresentava constatando assim que essas diluições adquiriam maior potencial de cura. As doses mínimas e até imponderais passaram a representar um dos fundamentos de seu método, até hoje o mais polêmico de sua doutrina.



O terceiro princípio é que a aplicação de uma única substância deve ser empregada com a finalidade de evitar interferências e sobreposição de sintomas provocados pelo medicamento.



O quarto princípio decorrente de sua metodologia peculiar constitui-se na experimentação de uma droga no homem são e sensível a ela no intuito de inventariar as suas manifestações e a partir daí poder correlacionar com a sintomatologia apresentada por um indivíduo doente.



Experimentando várias substâncias, sempre em indivíduos aparentemente sadios, e dentro de normas previamente estabelecidas, Hahnemann catalogou suas particularidades farmacodinâmicas nas doses sub-tóxicas e em diluições maiores dando a esse conjunto de manifestações o nome de PATOGENESIA constituindo assim a sua MATÉRIA MÉDICA HOMEOPÁTICA. Registrou também os quadros de intoxicações acidentais bem como os sintomas e sinais curados na clínica durante a utilização de determinada droga.

Na concepção de Hahnemann, a droga cuja patogenesia melhor coincidisse com as manifestações apresentadas pelo enfermo, seria capaz de curá-lo. Portanto, a base de sua terapêutica está na identificação do SIMILLIMUM, onde a indicação de uma determinada droga fica na dependência das características pessoais do doente, ou seja, além das manifestações próprias da enfermidade, também e principalmente outras de caráter individual, traduzindo-se pelo modo de agir, reagir e sentir do enfermo frente à agressão determinada pela enfermidade. Desta maneira o diagnóstico homeopático é dirigido pelas modalidades, sensações, simultaneidades e desvios de comportamento.

Hahnemann, enfim, sugere um sistema vitalista interpretando a SAÚDE como uma relação harmoniosa entre o indivíduo e os componentes de sua constituição, seus semelhantes e o ambiente físico a que vive circunscrito. Tudo isso determinado pelo equilíbrio de um princípio dinâmico que domina e anima o ser humano (e qualquer ser vivo segundo a sua concepção) em sua totalidade. A ENFERMIDADE, por sua vez, é o desequilíbrio desse princípio vital ou ainda um esforço do organismo na obtenção de um novo equilíbrio procurando reagir através do conjunto de sintomas e sinais frente a uma causa aparente ou imediata de natureza física, química, biológica ou psicológica levando a um processo evolutivo e determinando lesões anatômicas características nos indivíduos enfermos.



A visão homeopática das interações moleculares droga-organismo

Hoje a FARMACOLOGIA procura explicar os efeitos das substâncias biologicamente ativas ao nível molecular, visando determinar a relação que existe entre a estrutura química e a atividade biológica por meio de uma ativação ou inibição enzimática, supressão da função gênica, antagonismo metabólico, quelação, modificação da permeabilidade das membranas biológicas ou mesmo uma ação inespecífica decorrente das propriedades físico-químicas da matéria, onde a substância desorganiza uma cadeia de processos metabólicos. A conclusão inevitável é que, se a atividade ao nível molecular está subordinada às propriedades físico-químicas ou à estrutura química da droga, pressupõe-se uma complexação com sistemas receptores existentes no próprio organismo, e seu efeito é dependente da ação das massas, ou seja, da concentração da substância no organismo. O que dizer então do medicamento homeopático preparado na escala centesimal, isto é, diluído na proporção de uma parte da droga para 99 partes de veículo e em seguida sucussionado, onde após 12 diluições obtém-se uma mistura com uma concentração de aproximadamente 10 -12 partes da droga em relação ao veículo? Como o número de moléculas contidas num mol (massa molecular de uma substância química em gramas) é de aproximadamente 6.10 23, isto significa que a 12ª diluição (ou potência 12C) provavelmente não chegará a ter nem uma única molécula da substância original. E o que é mais paradoxal: segundo a doutrina Hahnemaniana, quanto mais diluído, mais potente é o medicamento e quanto maior essa potência, menor é a probabilidade de encontrar no medicamento até mesmo uma única molécula de seus componentes originais. Sendo assim uma explicação para o efeito farmacodinâmico homeopático ao nível da matéria está fora de cogitação. Hipoteticamente, pode-se aventar uma transferência energética do soluto ao solvente, segundo leis termodinâmicas, através do procedimento da DINAMIZAÇÃO (sucussão ou trituração) onde a substância imprimiria, neste ato, modificações ao nível eletrônico do solvente que por sua vez poderia interagir com os respectivos receptores biológicos ao ser administrado e promover assim uma reação do próprio organismo, em oposição ao efeito farmacológico primário da substância, efeito este inexistente ou pouco significativo uma vez que praticamente não haveria presença de matéria (isto na dose imponderal); porém bastante efetivo sob o ponto de vista energético, pois provocaria estímulos de auto-regulação nos sistemas metabólicos do organismo.



As leis dos Semelhantes - O Paradigma

Partindo-se do conceito de que droga consiste em qualquer substância capaz de promover alteraçõesmorfológicas e fisiológicas em um sistema biológico, a constatação de que as drogas provocam fases antagônicas no organismo é antiga (relatada por Hipócrates). Tal fenômeno difásico transcorre primeiramente pela absorção da droga e pela modificação bioquímica dependente da concentração que esta acarreta. Estimulado por esta alteração, o sistema biológico, no sentido de sua auto-preservação, dispara uma reação neutralizante traduzida por reações contrárias às ações provocadas pela droga.

Baseado neste fenômeno Hahnemann lança a hipótese de que a droga utilizada como medicamento desarmoniza o que ele chamou de Força Vital, produzindo alterações. E pela atuação da Força Vital, responsável pela conservação do equilíbrio orgânico, o próprio organismo desenvolve e opõe resistência. Seu estudo baseou-se na observação clínica através dos sintomas desenvolvidos nos indivíduos. E a interpretação do efeito inverso das drogas é a base para a Lei da similitude em que através de doses mínimas desenvolve no organismo um limiar de resposta frente a determinado agente potencialmente prejudicial promovendo ação primária de forma subliminar e transitória, porém gerando uma resposta biológica imediata, de grande amplitude, inespecífica em relação ao agente causal, porém específica em relação à constituição do organismo.



A dualidade de ação da droga

Tal hipótese está baseada em dois princípios que regem o comportamento de substâncias químicas frente aosorganismos vivos:

Ø As doses fracas das drogas promovem a excitação e a autodefesa dos organismos.

Ø As doses fortes (tóxicas) promovem a inibição das funções fisiológicas.

Portanto a droga numa dose ponderal dependendo de sua natureza e conformação agirá intervindo bioquimicamente sobre o organismo alterando seu comportamento (ação primária). Durante esta fase primária o organismo se comporta de um modo passivo traduzindo-se com um quadro de sintomas peculiares da interação da droga com as biomoléculas, porém devido à biotransformação e excreção da droga, sua concentração diminui e aí o organismo reage por mecanismos de retroindução e, de forma diametralmente oposta, desenvolve um estado sintomático secundário de defesa. Partindo-se deste pressuposto pode-se concluir que na presença de distúrbios patológicos análogos aos provocados por uma dose tóxica de uma determinada droga, recorrendo-se a uma pequena dose dessa mesma droga, esta irá restabelecer o equilíbrio orgânico alterado através de uma reação exatamente inversa por parte do organismo.



Especificidade da defesa orgânica

A explicação biológica pode tanto elucidar como anular o princípio da inversão da ação da droga, pois dá ênfase ao caráter Vitalista da cura homeopática. Baseia-se na disposição de que todo organismo vivo possui mecanismos defensivos de natureza genética que lhe garantem a homeostase e que se desenvolvem de forma ininterrupta (produção de anticorpos específicos, eliminações diversas, fagocitose, elevação da temperatura nos homeotermos). Resulta daí que o mais adequado estimulante da defesa orgânica contra um determinado agente agressivo é esse mesmo agente ou seu análogo mais próximo que, numa pequena dose, irá sensibilizar o organismo à defesa.

A comprovação de uma defesa orgânica específica vem assim corroborar a lei da semelhança e associála à outra lei - a Lei da Identidade - “Equalia aequalibus curentur”. Tal lei constitui o fundamento que a Escola Homeopática denominou com o nome de ISOPATIA , e a Escola Alopática a compreende como Vacinoterapia, Seroterapia e Proteinoterapia . Neste ponto os dois métodos (o da Homeopatia e o da Isopatia) se convergem para um princípio geral de analogia aplicado à terapêutica.



A terapêutica homeopática

Dentro do conceito homeopático a doença se instala quando encontra um “terreno predisposto”, isto é, quando o indivíduo está desequilibrado permitindo que isto ocorra. Portanto as pessoas adoecem quando estão predispostas e de acordo com sua constituição, temperamento e sua biografia. Sendo assim cada indivíduo é um ser único e apresenta reações particulares e uma forma própria de adoecimento. A consulta homeopática procura identificar as qualidades características do paciente e os fatores que levaram a pessoa a alterar seu equilíbrio dinâmico cuja totalidade dos sintomas representa a enfermidade. O medicamento homeopático é prescrito pelo critério da semelhança e esta abordagem terapêutica pode levar o indivíduo a uma maior compreensão de si mesmo proporcionando uma visão mais ampla dos seus problemas e oportunidades para soluções mais satisfatórias fazendo com que o individuo “homeopatizado” tenha uma participação ativa e maior responsabilidade na restauração de seu estado de saúde.



Referências

1. DUPRAT, H - “A teoria e a técnica da Homeopatia”. Rio de Janeiro: Olímpica Editora, 1974.

2. GOODMAN & GILMAN - “Las bases Farmacologicas de la Terapêutica”. Buenos Aires: Editorial Médica Panamericana, 1986.

3. GUILLÉN, D. G., et. ali - “História del Medicamento”. Barcelona: Ed. Doyma, 1985.

4. HAHNEMANN, Samuel - “Organon da Arte de curar”. Tradução da 6ª edição alemã. São Paulo:Benoit Mure, 1989.

5. HAHNEMANN, Samuel - “Organon da Arte de curar”. Tradução da 6ª edição alemã. Ribeirão Preto: Museu de Homeopatia Abrahão Brickmann,1995.

6. NETO, J.A. P. – Farmacotécnica Homeopática IBEHE, vol 1, Mythos, 1998

7. ROMANACH, A. K. - “Homeopatia em 1000 conceitos”. São Paulo: El Cid, 1984.

8. ROQUE, C. A. - “Tradução da Matéria Médica Pura de S. Hahnemann, vol 1, in Revista

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9. VIJNOVSKY, B. - “Organon de Hahnemann”. Tradución y comentários”. Buenos Aires, 1983.

10. VITHOUKAS, G. & GUINEBERG, C - “A Homeopatia: Origens e Futuro de uma Nova Medicina”. Tradução de Tati Moraes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

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