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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Fatores interferentes nos processos de desinfecção e esterilização.

DIÁRIO DE BORDO: A qualidade de um medicamento é medida pela sua adequação ao uso, pelas suas especificações e os atributos de segurança e eficácia são fundamentais para minimizar os riscos envolvidos em qualquer produção farmacêutica. As normas BPF foram desenvolvidas para evitar as contaminações, confusões e erros que possam tornar os medicamentos inadequados para o uso. A contaminação inesperada do produto pode causar danos à saúde ou mesmo a morte do paciente. Portanto, a contaminação microbiana é um dos principais riscos na fabricação de produtos farmacêuticos e os processos de desinfecção e esterilização são elementos chaves no seu controle . Em continuação ao artigo de Janeiro 2012 sobre conceitos de desinfecção e esterilização este o complementa discutindo sobre fatores que interferem nestes processos.




Há fatores que alteram a eficácia dos procedimentos de desinfecção e esterilização. A atividade antimicrobiana dos agentes químicos depende de uma variedade de fatores intrínsecos (natureza, estrutura e características dos microorganismos) e de fatores extrínsecos (características químicas e físicas do ambiente circunvizinho). O conhecimento desses fatores é imprescindível para o sucesso da aplicação dos procedimentos de desinfecção e esterilização.



Principais fatores interferentes e determinantes:

1 - Natureza do microrganismo


Os microrganismos variam consideravelmente quanto à susceptibilidade aos agentes desinfetantes químicos em função de sua estrutura e composição. De maneira genérica, a ordem decrescente de resistência apresentada ao agente antimicrobiano compreende: os esporos bacterianos, as células bacterianas, os fungos, as leveduras e os vírus. As células de micobactérias apresentam maior resistência em relação às células bacterianas, devido às características hidrofóbicas da superfície celular. Porém, esta ordem de resistência é variável de acordo com o agente químico escolhido e condições de aplicação.


2 - Natureza da proteína tóxica (príon)


Os príons resistem aos métodos tradicionais de esterilização, incluindo uso de agentes físicos (radiação, calor seco, calor úmido) e agentes químicos (óxido de etileno e formaldeído). Tratamentos em autoclave às temperaturas de 121 °C – 132 °C por 60 minutos, ou 134 °C por 18 minutos resultam em decréscimos de 5 ciclos logarítimicos de príons. A utilização de formaldeído em concentração de 10% por uma hora, reduz o titulo de príons em 30 vezes, sendo um adjuvante interessante no tratamento térmico. Experimentos utilizando temperaturas de 130 °C por 15 minutos, demonstraram inativação de 6 ciclos logarítmicos (cerca de 99,9999%) do tipo “scrapie” príon 263K. No entanto, se uma fração mínima permanece inalterada, esta apresenta excepcional resistência [Weber DJ, 2001].

3 - Nível de contaminação e localização dos contaminantes


A resposta dos microrganismos aos desinfetantes varia em relação a fatores, tais como: pH, temperatura, fase de multiplicação, presença de matéria orgânica e outros agentes químicos. A resistência aos desinfetantes pode ser uma propriedade intrínseca do microrganismo ou pode ser adquirida. Habitualmente, as bactérias Gram-negativas são mais resistentes em relação às bactérias Gram-positivas. Esse fenômeno está relacionado à composição da parede celular, que apresenta uma estrutura mais complexa, oferecendo menor permeabilidade à difusão dos agentes desinfetantes. A atividade antimicrobiana é diretamente proporcional ao número de microrganismos presentes. Quanto maior a carga microbiana, maior o tempo de exposição necessário para destruí-la. Assim, uma limpeza prévia escrupulosa, visando reduzir o número de microorganismos inicialmente presente, é de grande interesse para o sucesso da desinfecção. O acesso a todos os componentes de uma máquina, equipamento, utensílio ou instalação ao agente de limpeza, desinfecção e/ou esterilização é imprescindível, pois garante a conservação do item e previne a sua recontaminação interna através do local menos acessível. Tubulações, conexões e equipamentos compostos de múltiplas peças devem ser desmontados e expostos aos agentes de limpeza para então o serem ao agente desinfetante. A limpeza e desinfecção “in place“ não deve substituir integralmente a separação das múltiplas peças,evitando assim a contaminação de um material complexo por uma simples peça inacessível ao agente de limpeza/desinfecção.

4 – Concentração, tempo de exposição e concentração do agente desinfetante


Via de regra quanto mais concentrado o princípio ativo no desinfetante maior é a eficácia e menor o tempo de exposição necessário para a destruição da mesma carga microbiana. Os compostos de cloro dependem do valor de pH do meio, da natureza química do composto clorado inorgânico ou orgânico, e sobretudo da presença de sujidade na superfície aplicada. Assim também compostos de ácido peracético tem a sua atividade reduzida com o aumento do valor de pH e na presença de material orgânico.

5 - Fatores físicos e químicos


Diversos fatores físicos e químicos influenciam nos processos de desinfecção e esterilização, sendo os mais importantes à temperatura, o pH, a umidade relativa e a dureza da água.



a. Temperatura: os desinfetantes são comumente usados à temperatura ambiente, porém o aumento da temperatura pode favorecer a atividade do agente desinfetante, como por exemplo o formaldeído. Porém, a temperatura de aplicação do agente desinfetante depende da compatibilidade com a natureza do material do componente em questão (peças podem ser deformáveis às temperaturas superiores a 45 °C).



b. Valor de pH: o efeito do pH na ação antimicrobiana depende do desinfetante, dos microorganismos e do item submetido à desinfecção.Geralmente valores de pH menores a 7.0 sensibilizam células vegetativas e favorecem a difusão do agente desinfetante. A atividade dos compostos de cloro depende do valor de pH do meio de aplicação. A atividade do peróxido de hidrogênio independe do valor de pH. Os compostos quaternários de amônio e a clorexidina tornam-se mais efetivos ao valor de pH maiores a 7.0, pois são ativas na forma de cátions.O pH na faixa alcalina aumenta a atividade destes compostos catiônicos, e sinergicamente, provoca aumento do número de grupos carregados negativamente nas proteínas da superfície bacteriana, possibilitando maior número de sítios com os quais o agente desinfetante pode se combinar. A atividade dos fenóis é favorecida em pH ácido, embora possam ser efetivos em pH alcalino, na presença de substâncias solubilizantes. Soluções de glutaraldeído são ativadas em pH entre 7,5 e 8,5, à temperatura ambiente. A dependência da atividade antimicrobiana do desinfetante em relação ao valor de pH diminui à medida que a temperatura do meio atinge 70°C.



c. Dureza da água: os íons bivalentes cálcio e magnésio presentes na água interagem com detergentes e outros compostos orgânicos formando precipitados insolúveis. A eficácia dos compostos quaternários de amônio é marcadamente afetada na presença de água dura.



d. Umidade Relativa: este fator afeta diretamente a atividade de compostos na forma gasosa, como o óxido de etileno, o peróxido de hidrogênio (inativado na presença de água) e o formaldeído.

6 - Matéria Orgânica


Material orgânico interfere na ação dos agentes antimicrobianos, por simples reação ou formação de complexos que reduzem a concentração do agente químico disponível para reagir com os microrganismos. Matérias orgânicas exercem redução acentuada das atividades dos compostos altamente ativos como os liberadores inorgânicos de cloro e do ácido peracético. A limpeza prévia minimiza e previne a inativação da atividade dos agentes desinfetantes, aumenta a permeabilidade e difusividade dos mesmos nos locais de menor penetração e garante o sucesso da desinfecção e/ou esterilização. A limpeza é o estágio mais importante, simples e menos custoso de um procedimento de desinfecção. A limpeza deve preceder aos procedimentos de desinfecção ou de esterilização, pois reduz a carga microbiana pela remoção da sujidade e matéria orgânica presente nos materiais, possibilitando o contato necessário entre o agente antimicrobiano e a superfície considerada. Constitui o início de todos os programas referentes aos cuidados de higiene. Todo processo de descontaminação, para assegurar o nível de segurança máximo esperado, exige que o material, superfície ou área em questão não apresente qualquer tipo de resíduo que dificulte à difusão e acesso ao agente químico ou físico aplicado. Daí advir à necessidade de programas de limpeza prévios dos itens e áreas consideradas. Estudos demonstram que a limpeza manual ou mecânica, com água e detergente e/ou associados a produtos enzimáticos, pode causar a remoção de aproximadamente 105 microorganismos da população inicialmente considerada. Portanto, uma rigorosa limpeza é condição básica para qualquer processo de desinfecção ou esterilização.


Texto acima tem como base o artigo “Desinfecção e Esterilização Química” de Thereza Christina Vessoni Penna do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.



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