DIÁRIO DE BORDO: A esterilização consiste num processo que visa destruir
todas as formas de vida com capacidade de reprodução durante as fases de
armazenamento e utilização de um produto destinado à preservação da vida e
saúde humana. O produto assim deve manter suas características durante a sua
vida útil à temperatura ambiente. Portanto, a esterilidade é a incapacidade de
desenvolvimento de formas sobreviventes após o produto ser submetido a um
processo de esterilização. Os métodos de esterilização asseguram níveis de
esterilidade compatíveis às características exigidas para produtos
farmacêuticos, médico-hospitalares e alimentícios. O método escolhido depende
da natureza e da carga microbiana inicialmente presente em um produto
considerado. O calor e o óxido de etileno podem ser citados como agentes
esterilizantes.
Esterilização a vapor: O calor úmido na forma de vapor
saturado sob pressão é o agente esporocida mais utilizado e o mais confiável. É
um método atóxico e relativamente barato. O vapor aquece rapidamente o material
e penetra na sua estrutura. Considerando estes fatos, a esterilização a vapor
poderia ser utilizada sempre que possível para todos os produtos que não são sensíveis
ao calor e à umidade. O princípio básico da esterilização a vapor é levado a
cabo através de uma autoclave. Consiste no tratamento de cada unidade do
produto com vapor a uma temperatura e pressão adequadas, por um tempo
específico, com a finalidade de destruir os microorganismos por meio de
coagulação irreversível e desnaturação das enzimas e estruturas proteicas. Deste
modo quatro são os parâmetros para esterilização a vapor: temperatura, pressão,
tempo e concentração de vapor. O vapor ideal para esterilização é 100%
saturado, com água não saturada na forma de uma fina névoa. A produção de
pressão a altas temperaturas é fundamental para matar os microorganismos
rapidamente. A temperatura específica deve ser obtida para garantir a atividade
microbicida. As duas temperaturas mais utilizadas para esterilização a vapor
são 121°C e 134°C. Esporos de Bacillus
stearothermophilus são
utilizados para monitorar a eficiência da esterilização. Geralmente o tempo de
exposição necessário para esterilizar suprimentos empacotados ou produtos é de
20-30 minutos a 121°C em autoclave convencional ou 4 minutos a 134°C em câmara
provida de pré-pulsos de vácuo e secagem final. O processo de autoclavação deve
ser qualificado e a autoclave deve ser validada diariamente quanto à sua operacionalidade
observando-se a remoção total do ar, a qualidade do vapor, a temperatura,
pressão e tempo para assegurar o nível de esterilidade desejada.
Esterilização por Óxido de Etileno: O óxido de etileno
é um gás incolor, inodoro, inflamável, explosivo e potencialmente
carcinogênico. Porém, quando misturado a um gás inerte mediante determinadas
condições, pode ser utilizado para esterilizar
produtos termossensíveis. Misturando óxido de etileno (10 a 12%) ao dióxido de
carbono ou nitrogênio os riscos de explosão e incêndio são minimizados a níveis
seguros. A atividade microbicida do óxido de etileno é considerada ser
resultante da alquilação das proteínas, DNA e RNA, impedindo a multiplicação
celular. Óxido
de etileno inativa todos os microorganismos, embora esporos bacterianos especialmente
Bacillus subitilis são
mais resistentes que outro microorganismos. Consequentemente, o Bacillus subitilis é usado como
indicador biológico do processo. A eficácia da esterilização por óxido de
etileno depende de 4 fatores essenciais: a concentração de gás, temperatura,
umidade e tempo de exposição. O ciclo básico de esterilização por óxido de
etileno consiste de 5 estágios (pré-vácuo e umidificação, introdução de gás, exposição, evacuação e esgotamento
do gás com ar) sendo o período total de esterilização e aeração de 48h às 72h .
A aeração mecânica de 8 a 12 horas, à temperatura entre 50 e 60°C remove os resíduos tóxicos (óxido de etileno, etilenocloridrina
e de etilenoglicol) impregnados nos produtos. O processo apresenta custo
elevado, é lento (48-72h), potencialmente perigoso e carcinogênico para os
operadores. Requer ambiente isolado, aerado e proteção individual aos
operadores. O óxido de etileno e seus resíduos são considerados potencialmente
carcinogênicos. A legislação brasileira orienta quanto às instalações para
armazenamento e emprego do óxido de etileno, do controle de saúde do usuário e da
proteção individual e coletiva durante o processo de esterilização.
Abordagem cinética da esterilização: Pela
conceituação clássica, entende-se que esterilização é o processo de destruição
de todas as formas de vida microbiana, ou seja, bactérias nas formas
vegetativas e seus esporos, fungos e vírus, mediante a aplicação de agentes
físicos e químicos. Entretanto considerando a cinética de destruição
logarítmica dos microrganismos sob a ação de um agente químico ou físico (morte
em curva logarítmica), o processo de esterilização assume um entendimento mais
complexo. Sendo assim, esterilização é o processo pelo qual os microrganismos
são mortos a tal ponto que não seja mais possível detectá-los no meio de
cultura padrão no qual previamente haviam proliferado. Convencionalmente,
considera-se um produto estéril quando a probabilidade de sobrevivência dos
microrganismos que o contaminam é menor do que 1:1. 000.000. Este critério é o
principio básico dos testes biológicos usualmente utilizados para controlar os
processos de esterilização. A segurança da esterilização é expressa pela
probabilidade dos microrganismos poderem sobreviver a este processo que
corresponde ao proporcional tratamento que um produto deve receber de acordo
com o seu risco potencial de causar infecção. O nível de segurança de
esterilização varia de acordo com o uso do produto:
10-6
de probabilidade de sobrevivência de microrganismos para produtos considerados críticos;
10-3 é
o requisito direcionado para produtos não críticos, que entram em contato
apenas com pele íntegra;
10-12 é a padronização
mais rigorosa aplicada para a probabilidade de sobrevida do esporo de Clostridium botulinum.
Os conceitos
descritos acima têm como base o artigo “Desinfecção e Esterilização Química” de
Thereza Christina Vessoni Penna do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica
da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.