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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sistema CAPA e Análise de Causa Raiz


Diário de bordo: Investigar a causa de uma falha de qualidade ou problema de produção é uma tarefa que toda empresa farmacêutica deve proceder. E quanto mais estruturado e abrangente for o processo de investigação maior será a eficácia de sua resolução. Recentes “WARNING LETTERS” da FDA apontam os programas de ações corretivas e preventivas (CAPA) como umas das principais deficiências encontradas em suas inspeções. Como garantir que seu sistema CAPA implantado está no caminho certo?

É um consenso entre os especialistas que lidam com o sistema CAPA que as melhores práticas giram em torno de certas atividades básicas fundamentais e não propriamente na tecnologia aplicada para a estruturação de um sistema CAPA.

A maioria das empresas apresentam várias maneiras de lidar com problemas e reclamações de qualidade onde os vários departamentos ou “sites” aplicam diferentes processos CAPA sem ter uma visão única de gestão, não praticando uma análise crítica, avaliando as tendências e propondo ações preventivas.

As pequenas empresas surpreendentemente apresentam uma abordagem mais sistêmica no tratamento do sistema CAPA, pois como o pessoal é reduzido, as pessoas se conhecem melhor e trabalham em equipe com maior frequência.

A ineficiência sistêmica do sistema CAPA pode ser atribuída muitas vezes pela falta de requisitos claros no processo ou pela falta de procedimentos escritos. Também a falta de um programa robusto de autoinspeção que possibilita a tomada de medidas preventivas eficazes impede o desenvolvimento do sistema CAPA.

Metodologia dos quatro passos

Na maioria dos casos uma investigação CAPA inicia-se devido a um evento indesejado: um resultado fora de especificação dentro do laboratório, uma inconsistência na produção, um apontamento de uma autoinspeção, uma observação de auditoria externa ou uma reclamação do mercado. Qualquer advento negativo deve ser inserido em um sistema CAPA para gerar registros de investigação, porém o processo CAPA deve ser mais amplo que isso, pois encontrar a causa raiz é o seu real objetivo. Um processo CAPA bem sucedido passa pela definição do problema e de uma avaliação de quem, o quê e onde está o risco, assim como na verificação do impacto potencial sobre a organização. Geralmente os especialistas recomendam que as investigações de causa raiz devam seguir um processo de quatro passos:

1. Identificar o problema;

2. Avaliar a magnitude do problema incluindo uma Análise de Risco (AR);

3. Investigar e atribuir responsabilidades das ações;

4. Analisar e documentar a causa raiz do problema.

Informatizando o sistema CAPA

Toda investigação CAPA tem um fluxo de trabalho prescrito, pois gera um conjunto de atividades com pessoas designadas para a realização dessas ações. Quando o sistema CAPA é estimulado na organização é comum verificar muitas ações CAPA “esquecidas” e sem conclusão por um tempo inaceitável. Como fazer um acompanhamento efetivo de vários eventos CAPA e das múltiplas ações geradas? Atualmente existem no mercado alguns softwares munidos de um “workflow” capaz de rápidas verificações, proporcionando um monitoramento efetivo e garantindo que todas as investigações abertas sejam concluídas em tempo hábil. O sistema CAPA administrado de forma eletrônica fica transparente e acessível a todos trazendo maior confiabilidade na manutenção e consistência dos arquivos.

O fator “pessoa”

As tecnologias e processos são apenas parte da solução. Existe a questão cultural da empresa onde o maior desafio é obter mudanças comportamentais das pessoas. A chave para o sucesso de um efetivo programa de investigações CAPA consiste numa diretiva “top-down” da alta administração incentivando todos a trabalharem no projeto. Equipes multifuncionais internas acompanhadas por consultores especialistas externos com conhecimentos específicos na configuração do software facilitam a aceitação e implantação do sistema informatizado.

Como lidar com más notícias.

A parte mais difícil da resolução de problemas é a sua identificação. Chegar num consenso claro de qual é o problema real, identificar o que realmente está ocorrendo, assim como o que se espera que aconteça, é essencial para a determinação do nível do desvio. Para identificar a causa raiz do problema deve-se primeiramente identificar o problema, onde ele ocorre, qual sua frequência e sua dimensão. Devem-se testar todas as hipóteses candidatas às causas diante dos fatos da ocorrência para encontrar aquela que melhor explica o problema. Concomitantemente a este processo devem-se levantar outros possíveis problemas que poderiam ocorrer e porque não ocorrem. Por que um determinado lote falhou se o anterior e o posterior não? Uma vez constituída uma hipótese da causa, o próximo passo é testá-la, seja por experimentação ou correção, e verificar se a solução funciona. É importante distinguir os sintomas observados da causa fundamental do problema.

Uma análise de causa raiz envolve uma bateria de perguntas com o objetivo de aprofundar-se no entendimento sobre o problema até identificar a razão da ocorrência. Muitas vezes a causa de um problema é o sintoma de um problema mais abrangente. Caso o motivo imediato para a produção de um lote fora da especificação for um operador mal treinado (falha operacional), a análise de causa raiz deve investigar se o programa de treinamento está falhando, ou seja, deve-se perguntar se existem outros operadores mal treinados.

Toda esta atividade deve ser documentada e um relatório completo da investigação deve ser preparado. Muitas informações podem ser obtidas a partir da documentação do lote, outras nos registros eletrônicos e também por meio de entrevistas com os envolvidos. Para muitas empresas isto pode ser um esforço muito desafiador. E geralmente as pessoas que fazem isso não são as mais bem pagas da organização e sofrem muita pressão para resolver um problema instalado. Tão importante quanto identificar a causa raiz de um evento CAPA é a determinação de ações corretivas e preventivas para se evitar ocorrências futuras.



Texto baseado no artigo “CAPA and Root Cause Analysis” de Doug Bartholomew em
http://www.pharmamanufacturing.com/articles/2011/068.html?goback=%2Egde_94209_member_127363799 visitado em 17.07.2

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Fatores interferentes nos processos de desinfecção e esterilização.

DIÁRIO DE BORDO: A qualidade de um medicamento é medida pela sua adequação ao uso, pelas suas especificações e os atributos de segurança e eficácia são fundamentais para minimizar os riscos envolvidos em qualquer produção farmacêutica. As normas BPF foram desenvolvidas para evitar as contaminações, confusões e erros que possam tornar os medicamentos inadequados para o uso. A contaminação inesperada do produto pode causar danos à saúde ou mesmo a morte do paciente. Portanto, a contaminação microbiana é um dos principais riscos na fabricação de produtos farmacêuticos e os processos de desinfecção e esterilização são elementos chaves no seu controle . Em continuação ao artigo de Janeiro 2012 sobre conceitos de desinfecção e esterilização este o complementa discutindo sobre fatores que interferem nestes processos.




Há fatores que alteram a eficácia dos procedimentos de desinfecção e esterilização. A atividade antimicrobiana dos agentes químicos depende de uma variedade de fatores intrínsecos (natureza, estrutura e características dos microorganismos) e de fatores extrínsecos (características químicas e físicas do ambiente circunvizinho). O conhecimento desses fatores é imprescindível para o sucesso da aplicação dos procedimentos de desinfecção e esterilização.



Principais fatores interferentes e determinantes:

1 - Natureza do microrganismo


Os microrganismos variam consideravelmente quanto à susceptibilidade aos agentes desinfetantes químicos em função de sua estrutura e composição. De maneira genérica, a ordem decrescente de resistência apresentada ao agente antimicrobiano compreende: os esporos bacterianos, as células bacterianas, os fungos, as leveduras e os vírus. As células de micobactérias apresentam maior resistência em relação às células bacterianas, devido às características hidrofóbicas da superfície celular. Porém, esta ordem de resistência é variável de acordo com o agente químico escolhido e condições de aplicação.


2 - Natureza da proteína tóxica (príon)


Os príons resistem aos métodos tradicionais de esterilização, incluindo uso de agentes físicos (radiação, calor seco, calor úmido) e agentes químicos (óxido de etileno e formaldeído). Tratamentos em autoclave às temperaturas de 121 °C – 132 °C por 60 minutos, ou 134 °C por 18 minutos resultam em decréscimos de 5 ciclos logarítimicos de príons. A utilização de formaldeído em concentração de 10% por uma hora, reduz o titulo de príons em 30 vezes, sendo um adjuvante interessante no tratamento térmico. Experimentos utilizando temperaturas de 130 °C por 15 minutos, demonstraram inativação de 6 ciclos logarítmicos (cerca de 99,9999%) do tipo “scrapie” príon 263K. No entanto, se uma fração mínima permanece inalterada, esta apresenta excepcional resistência [Weber DJ, 2001].

3 - Nível de contaminação e localização dos contaminantes


A resposta dos microrganismos aos desinfetantes varia em relação a fatores, tais como: pH, temperatura, fase de multiplicação, presença de matéria orgânica e outros agentes químicos. A resistência aos desinfetantes pode ser uma propriedade intrínseca do microrganismo ou pode ser adquirida. Habitualmente, as bactérias Gram-negativas são mais resistentes em relação às bactérias Gram-positivas. Esse fenômeno está relacionado à composição da parede celular, que apresenta uma estrutura mais complexa, oferecendo menor permeabilidade à difusão dos agentes desinfetantes. A atividade antimicrobiana é diretamente proporcional ao número de microrganismos presentes. Quanto maior a carga microbiana, maior o tempo de exposição necessário para destruí-la. Assim, uma limpeza prévia escrupulosa, visando reduzir o número de microorganismos inicialmente presente, é de grande interesse para o sucesso da desinfecção. O acesso a todos os componentes de uma máquina, equipamento, utensílio ou instalação ao agente de limpeza, desinfecção e/ou esterilização é imprescindível, pois garante a conservação do item e previne a sua recontaminação interna através do local menos acessível. Tubulações, conexões e equipamentos compostos de múltiplas peças devem ser desmontados e expostos aos agentes de limpeza para então o serem ao agente desinfetante. A limpeza e desinfecção “in place“ não deve substituir integralmente a separação das múltiplas peças,evitando assim a contaminação de um material complexo por uma simples peça inacessível ao agente de limpeza/desinfecção.

4 – Concentração, tempo de exposição e concentração do agente desinfetante


Via de regra quanto mais concentrado o princípio ativo no desinfetante maior é a eficácia e menor o tempo de exposição necessário para a destruição da mesma carga microbiana. Os compostos de cloro dependem do valor de pH do meio, da natureza química do composto clorado inorgânico ou orgânico, e sobretudo da presença de sujidade na superfície aplicada. Assim também compostos de ácido peracético tem a sua atividade reduzida com o aumento do valor de pH e na presença de material orgânico.

5 - Fatores físicos e químicos


Diversos fatores físicos e químicos influenciam nos processos de desinfecção e esterilização, sendo os mais importantes à temperatura, o pH, a umidade relativa e a dureza da água.



a. Temperatura: os desinfetantes são comumente usados à temperatura ambiente, porém o aumento da temperatura pode favorecer a atividade do agente desinfetante, como por exemplo o formaldeído. Porém, a temperatura de aplicação do agente desinfetante depende da compatibilidade com a natureza do material do componente em questão (peças podem ser deformáveis às temperaturas superiores a 45 °C).



b. Valor de pH: o efeito do pH na ação antimicrobiana depende do desinfetante, dos microorganismos e do item submetido à desinfecção.Geralmente valores de pH menores a 7.0 sensibilizam células vegetativas e favorecem a difusão do agente desinfetante. A atividade dos compostos de cloro depende do valor de pH do meio de aplicação. A atividade do peróxido de hidrogênio independe do valor de pH. Os compostos quaternários de amônio e a clorexidina tornam-se mais efetivos ao valor de pH maiores a 7.0, pois são ativas na forma de cátions.O pH na faixa alcalina aumenta a atividade destes compostos catiônicos, e sinergicamente, provoca aumento do número de grupos carregados negativamente nas proteínas da superfície bacteriana, possibilitando maior número de sítios com os quais o agente desinfetante pode se combinar. A atividade dos fenóis é favorecida em pH ácido, embora possam ser efetivos em pH alcalino, na presença de substâncias solubilizantes. Soluções de glutaraldeído são ativadas em pH entre 7,5 e 8,5, à temperatura ambiente. A dependência da atividade antimicrobiana do desinfetante em relação ao valor de pH diminui à medida que a temperatura do meio atinge 70°C.



c. Dureza da água: os íons bivalentes cálcio e magnésio presentes na água interagem com detergentes e outros compostos orgânicos formando precipitados insolúveis. A eficácia dos compostos quaternários de amônio é marcadamente afetada na presença de água dura.



d. Umidade Relativa: este fator afeta diretamente a atividade de compostos na forma gasosa, como o óxido de etileno, o peróxido de hidrogênio (inativado na presença de água) e o formaldeído.

6 - Matéria Orgânica


Material orgânico interfere na ação dos agentes antimicrobianos, por simples reação ou formação de complexos que reduzem a concentração do agente químico disponível para reagir com os microrganismos. Matérias orgânicas exercem redução acentuada das atividades dos compostos altamente ativos como os liberadores inorgânicos de cloro e do ácido peracético. A limpeza prévia minimiza e previne a inativação da atividade dos agentes desinfetantes, aumenta a permeabilidade e difusividade dos mesmos nos locais de menor penetração e garante o sucesso da desinfecção e/ou esterilização. A limpeza é o estágio mais importante, simples e menos custoso de um procedimento de desinfecção. A limpeza deve preceder aos procedimentos de desinfecção ou de esterilização, pois reduz a carga microbiana pela remoção da sujidade e matéria orgânica presente nos materiais, possibilitando o contato necessário entre o agente antimicrobiano e a superfície considerada. Constitui o início de todos os programas referentes aos cuidados de higiene. Todo processo de descontaminação, para assegurar o nível de segurança máximo esperado, exige que o material, superfície ou área em questão não apresente qualquer tipo de resíduo que dificulte à difusão e acesso ao agente químico ou físico aplicado. Daí advir à necessidade de programas de limpeza prévios dos itens e áreas consideradas. Estudos demonstram que a limpeza manual ou mecânica, com água e detergente e/ou associados a produtos enzimáticos, pode causar a remoção de aproximadamente 105 microorganismos da população inicialmente considerada. Portanto, uma rigorosa limpeza é condição básica para qualquer processo de desinfecção ou esterilização.


Texto acima tem como base o artigo “Desinfecção e Esterilização Química” de Thereza Christina Vessoni Penna do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.